Planejamento financeiro para criadores de conteúdo
Quando falamos em trabalhar de forma independente, a primeira preocupação que surge na cabeça dos creators é em relação ao dinheiro. Isso faz total sentido, porque não dá para simplesmente acordar um dia, decidir que vai trabalhar como criador de conteúdo e jogar tudo para o alto sem ter nenhuma garantia ou planejamento financeiro.
Pensando nisso, eu resolvi criar este post com alguns insights sobre planejamento financeiro para criadores de conteúdo.
Bora começar?
Porque fazer um planejamento financeiro?
De acordo com o Comitê de Padrões de Planejamento Financeiro Ltd. (FPSB), o planejamento financeiro é um “processo de desenvolvimento de estratégias para ajudar as pessoas a administrar seus assuntos financeiros para atingir os objetivos de sua vida”.
Essa é a primeira coisa que você precisa fazer antes mesmo de começar a pensar em criar conteúdo, principalmente se você tem uma família para sustentar.
Isso porque, a partir de um bom planejamento financeiro, você consegue se preparar para enfrentar imprevistos, se planejar para a aposentadoria e preparar o caminho para realizar o projeto de se tornar um creator full-time.
Vamos ao passo a passo.
Primeira etapa do planejamento financeiro: a reserva de emergência
Uma das primeiras coisas que qualquer pessoa que está começando a se organizar financeiramente precisa fazer, é criar uma reserva de emergência. Ter e investir esses recursos é o primeiro passo para uma vida financeira equilibrada e sem sustos.
Mas como começar? Com quanto? E onde aplicar o dinheiro guardado?
É isso o que eu vou te explicar agora.
O que é reserva de emergência?
A reserva de emergência é uma economia realizada ao longo do tempo, capaz de bancar o seu custo de vida por um determinado período.
Lembre-se: Ela é uma reserva de EMERGÊNCIA, ou seja, deve ser usada em momentos de necessidade ou imprevistos.
Qual é o valor ideal da reserva de emergência?
Essa é uma dúvida muito comum para quem está começando a se organizar financeiramente. Você precisa ter em mente que pessoas diferentes vivem situações distintas e têm necessidades específicas.
Normalmente, os especialistas em finanças estipulam que a reserva de emergência deve ter de seis a 12 meses dos seus gastos mensais. Ou seja, se você tem uma despesa média mensal de R$ 2 mil, então a sua reserva precisa ser de, pelo menos, R$ 12 mil.
Porém, para aqueles que estão querendo empreender, que é o caso dos criadores de conteúdo, o ideal é que a reserva de emergência tenha de 12 a 24 meses do seu custo de vida. Ou seja, se você tem uma despesa média mensal de R$ 2 mil, então a sua reserva precisa ser de, pelo menos, R$ 24 mil.
Mas Geovana, por que essa diferença?
Uma reserva de pelo menos seis meses do custo de vida, é indicada para pessoas que recebem de forma constante um valor fixo mensal, um salário. Se você é um criador de conteúdo que já consegue se pagar um salário todos os meses, ótimo. Pode criar a sua reserva com apenas seis meses do seu custo de vida.
Porém, se você está começando agora, saiba que o buraco é mais embaixo. Isso porque o tempo necessário para que o seu negócio se estabeleça e você comece a ganhar o seu dinheiro todos os meses, num valor que cubra todas as suas despesas pessoais mensais, é bem maior. Ou seja, você vai precisar de mais tempo para reestruturar a sua situação financeira sem maiores problemas.
Como criar uma reserva de emergência?
É muito difícil conseguir acumular uma reserva de emergência sem antes avaliar a própria vida financeira. Revisar todos os seus gastos e fontes de renda é a melhor maneira de começar esse trabalho.
Você precisa organizar o seu orçamento, identificar gargalos financeiros e liberar espaço para realmente começar a criar a sua reserva. É muito importante que você estabeleça um valor para guardar, religiosamente, todos os meses antes mesmo de pagar as suas contas, dívidas, etc.
Não espere “sobrar dinheiro” para criar a sua reserva, porque pode ser que nunca sobre.
Onde investir a reserva de emergência?
A sua reserva de emergência precisa ser formada por investimentos que possam ser resgatados no mesmo dia ou, no máximo, no dia seguinte. Isso porque, se você precisa lidar com um imprevisto, provavelmente vai precisar do dinheiro o mais rápido possível para resolver.
O nível de facilidade para resgatar um investimento é chamado de liquidez. Por isso, podemos dizer que a reserva de emergência precisa ser aplicada em produtos financeiros de liquidez elevada, preferencialmente de liquidez diária.
Atualmente no mercado, existem algumas alternativas para que você invista de forma segura e tenha o dinheiro da sua reserva sempre à disposição, como:
1. Tesouro Selic
É um título público emitido pelo governo, de liquidez diária, que remunera os investidores de acordo com a taxa Selic.
2. Fundos de Renda Fixa conservadores
São Fundos de Investimentos que investem em ativos que seguem a taxa do CDI ou outros ativos de Renda Fixa com liquidez D+0 ou D+1, ou seja, em que o prazo de resgate é no mesmo dia ou no dia seguinte.
4. Contas digitais remuneradas
Por último, há ainda a alternativa das contas-corrente remuneradas. Esse tipo de investimento normalmente funciona remunerando o valor que você tem em conta a uma determinada proporção da taxa DI, como, por exemplo, 100% do CDI.
Quando usar a reserva de emergência
O nome já diz, mas não custa lembrar: a reserva de emergência só deve ser usada em EMERGÊNCIAS.
Ela não serve para bancar gastos não essenciais e, depois de usada em uma situação de emergência, a reserva deve ser recomposta o mais rápido possível.
A reserva de emergência também não deve ser usada para quitar dívidas, uma vez que isso deve estar contemplado no seu planejamento financeiro como um todo.
Segunda etapa do planejamento financeiro: criação do orçamento
Normalmente, os creators têm o foco todo voltado para a saúde financeira de seus negócios. Porém, para que a sua empresa seja um sucesso, é importantíssimo que você tenha a sua vida financeira bem organizada antes de começar.
Para te ajudar nessa tarefa, nada melhor do que elaborar um orçamento, que é uma ferramenta de planejamento financeiro que te dá a oportunidade de avaliar a sua vida financeira e te ajuda a definir prioridades. É importante que toda movimentação do seu dinheiro, incluindo todas as receitas (rendas), todas as despesas (gastos) e todos os investimentos, esteja anotada e organizada.
Elaborando um orçamento você consegue:
- conhecer e organizar a sua vida financeira;
- escolher os seus projetos;
- fazer o seu planejamento financeiro;
- definir suas prioridades;
- identificar e entender seus hábitos de consumo;
- administrar imprevistos;
- consumir de forma contínua (não travar o consumo).
Se você está começando agora ou pretende iniciar em breve a sua carreira como criador de conteúdo, a organização da sua movimentação financeira se torna ainda mais importante. Isso porque, quando você trabalha de carteira assinada, você sabe que vai receber um valor certo todos os meses pelo seu trabalho. Porém, quando você se torna um criador de conteúdo, seja um youtuber, redator autônomo, tiktoker, etc, a sua renda não é tão certa, principalmente no início.
Para piorar, pesquisas indicam que grande parte da população não sabe como gasta o seu dinheiro ou o quanto é gasto em cada grupo de despesas, como alimentação, moradia, educação, saúde, lazer, dívidas, etc.
Me responda sinceramente: você sabe quanto gasta e como gasta seu dinheiro todo mês? Você sabe quais itens consomem a maior parte de sua renda? Você planeja seus gastos? Quando planeja, você cumpre o planejamento?
Qualquer que seja o tamanho do seu projeto, ter um bom controle das receitas e das despesas, bem como se organizar e definir o que tem de ser feito, vai te ajudar a alcançar os seus objetivos no menor tempo e custo possível.
Por isso, quanto antes você começar, melhor.
Como começar meu orçamento?
O orçamento pessoal deve ser iniciado a partir do registro de tudo o que você ganha e o que gasta durante um determinado período, seja ele um mês ou um ano. Um importante princípio a ser seguido na elaboração do orçamento é que as despesas não devem ser superiores às receitas. Na verdade, o ideal é que as receitas superem as despesas, para que você possa formar uma reserva e investir o seu dinheiro de modo a ter recursos suficientes para o futuro.
O processo de elaboração do orçamento
Aqui nós vamos criar um modelo de orçamento de quatro etapas: planejamento, registro, agrupamento e avaliação.
1ª etapa: Planejamento
Nesta etapa você vai estimar as receitas e as despesas do período. Para isso, você pode utilizar as receitas e as despesas passadas como base para prever as receitas e as despesas futuras.
- Lembre-se dos compromissos sazonais: impostos, seguros, etc.
- Lembre-se dos compromissos já assumidos: prestações a vencer, faturas de cartões de crédito, etc.
2ª etapa: Registro
É necessário anotar, de preferência diariamente para evitar esquecimentos, todas as receitas e despesas. Para isso, aqui vão algumas sugestões.
- Anote todos os gastos;
- Confira os extratos bancários e as faturas de cartões de crédito;
- Guarde as notas fiscais e os recibos de pagamento;
- Guarde os comprovantes de utilização de cartões (débito/crédito);
- Diferencie as várias formas de pagamentos, separando-as em dinheiro, débito e crédito.
3ª etapa: Agrupamento
O agrupamento facilita a verificação do quanto você gasta em determinados grupos de itens, além de te ajudar com os ajustes ou cortes que eventualmente sejam necessários.
Para isso, agrupe as suas anotações conforme alguma característica similar. Por exemplo: despesa com alimentação, com habitação, com transporte, com lazer etc.
Lembre-se: essa não é a única forma de agrupar as despesas. Você pode utilizar outras formas de agrupamento que sejam mais adequadas à sua realidade.
4ª etapa: Avaliação
Agora você vai avaliar como suas finanças se comportaram ao longo do mês e irá agir, corretiva e preventivamente. Responda o seguinte:
- Você gastou menos, o mesmo ou mais do que recebeu?
- Quais são seus sonhos e suas metas financeiras? Precisam de curto, médio ou longo prazo? São compatíveis com o seu orçamento? Tem separado recursos financeiros para realizá-los?
- É possível reduzir gastos desnecessários? Observe os pequenos gastos, pois a soma de muitos “poucos” pode ser bem relevante.
- É possível aumentar as receitas?
Terceira etapa do planejamento financeiro: Quitação de dívidas
Normalmente, consideramos que estamos endividados quando não estamos dando conta de pagar os nossos compromissos. Entretanto, essa não é toda a verdade. Quando não conseguimos pagar nossas dívidas, já estamos em um patamar de endividamento muito preocupante, que é o endividamento excessivo.
Na verdade, toda vez que consumimos algo e não pagamos naquele exato momento, estamos assumindo uma dívida. É muito importante que você consiga identificar o que exatamente está te causando problemas financeiros.
Aqui vão alguns insights para você:
- Despesas sazonais: são aquelas que ocorrem em determinada época do ano, como pagamento de IPTU, IPVA ou Imposto de Renda. Elas nem sempre são observadas ao se fazer um planejamento financeiro. Existem ainda as datas comemorativas, como Natal, Dia das Mães, Dia das Crianças, aniversários etc. Tudo isso precisa entrar no seu planejamento.
- Redução de renda sem redução de despesas: essa é outra questão muito importante, que pode ser a porta da entrada para o endividamento excessivo. Ao se deparar com uma redução de renda, é fundamental fazer uma revisão do seu orçamento, adequando as despesas à nova realidade.
- Despesas emergenciais: imprevistos acontecem. Porém, nem sempre estamos preparados financeiramente para isso. Portanto, construir a sua reserva de emergência para cobrir eventuais emergências se torna um passo muito importante.
Como sair das dívidas
Se você estiver em uma situação de superendividamento, saiba que existem formas de se livrar dessa situação. Porém, você vai precisar tomar algumas atitudes, que podem parecer um pouco desagradáveis de se fazer.
Vamos lá.
Mapear as dívidas
O primeiro passo é conhecer o tamanho do problema. Para isso, é preciso mapear detalhadamente as informações importantes, como: os valores das dívidas, os prazos para pagamento, as taxas de juros que está pagando etc. Com essas informações, fica mais fácil ir atrás de alternativas para sair do endividamento.
Não fazer novas dívidas
Eu sei que isso pode parecer óbvio, mas não fazer novas dívidas é algo fundamental. Esse é o momento de reorganização da sua vida financeira e fazer dívidas nessa hora é realimentar um ciclo negativo, dificultando a saída do endividamento.
Renegociar as dívidas
Negociar condições mais vantajosas para o pagamento das dívidas é outro ponto fundamental para sair do endividamento. Essa é a hora de procurar trocar dívidas que pagam juros altos por dívidas com juros menores. Negociar os prazos também pode ajudar na reorganização financeira do endividado.
Reduzir gastos
Outra ação imprescindível para a saída do endividamento é o corte de gastos. Sobre o assunto, vale a pena refletir sobre os três tipos de gastos.
- Necessários: são os gastos considerados imprescindíveis, ligados às necessidades. Exemplos: alimentação e moradia.
- Supérfluos: são os gastos que geram bem-estar e estão ligados mais aos desejos que às necessidades. Exemplos: restaurantes, TV a cabo e roupas de marca.
- Desperdícios: são os gastos que não geram bem-estar nem estão ligados às necessidades ou aos desejos. Exemplos: multas, pagar por algo e não usar, esquecer luz acesa ou a torneira aberta.
Uma vez definidas quais despesas se encaixam em cada uma dessas áreas, chega o momento de decidir o que fazer. Você pode: eliminar, reduzir ou otimizar seus gastos (procurar alternativas).
Gerar renda extra
Muitas vezes nosso orçamento já está no limite suportável e, ainda assim, encontra-se deficitário. Além da redução dos nossos gastos, podemos avaliar uma alternativa de aumentar a nossa renda.
Dicas finais:
Antes de encerrar esse post, eu vou te dar mais algumas dicas para te ajudar com o seu planejamento financeiro.
- Tenha um planejamento financeiro: esse ponto é mais um reforço do que uma dica. É de extrema importância que você se planeje financeiramente antes e durante a sua jornada como criador de conteúdo. Para isso, crie o seu orçamento o mais rápido possível.
- Tenha uma conta corrente pessoal e uma conta para o seu negócio: não pense que tudo o que você ganha como creator é seu, porque não é. Você agora possui uma empresa e ela precisa de dinheiro para funcionar e expandir. Determine um salário para você e faça a transferência da sua conta jurídica para a pessoal.
- Em relação ao orçamento: tenha um orçamento pessoal e um orçamento empresarial. Como eu disse antes, nem todo o dinheiro que você ganha como criador de conteúdo é seu e, provavelmente, suas metas financeiras e empresariais serão diferentes.
- Faça o que é melhor para você financeiramente: a ajuda alheia é sempre bem vinda, mas não deixe ninguém se meter nos seus objetivos financeiros.
- Seja objetivo com onde você gasta seu dinheiro: para manter seus gastos sob controle, se pergunte, em uma escala de 1 a 10, o quanto realmente precisa de algo antes de comprá-lo. Sabendo quando você está gastando excessivamente, você consegue fazer ajustes no seu planejamento.
- Diversifique sua renda: como criador de conteúdo, é muito importante que você nunca dependa de apenas uma fonte de renda. Vamos supor que você seja um Youtuber que depende exclusivamente da renda do AdSense. E se o Youtube te banir? E se ele simplesmente sumir do mapa algum dia? E aí? Pense em estratégias para diversificar a sua renda.
Conclusão
Objetivo deste post foi te falar da importância do planejamento financeiro pessoal para os criadores de conteúdo. Isso porque essa é uma das primeiras coisas que você precisa fazer, antes mesmo de começar a pensar em criar conteúdo.
Com um bom planejamento financeiro, você consegue se preparar para enfrentar imprevistos e preparar o caminho para realizar o projeto de se tornar um creator full-time.
Para te ajudar nessa tarefa, nós te apresentamos o orçamento, que é uma ferramenta perfeita para te ajudar a avaliar e organizar a sua vida financeira.